No mês de abril ocorreu em Missal a morte de um bebê pela ocorrência da broncoaspiração, e leitores sugeriram uma matéria sobre o assunto. O evento ocorre com pouca frequência, sendo mais comum em crianças. Conversamos sobre o assunto com o diretor clínico do Hospital Nossa Senhora de Fátima, médico Luiz Gustavo Deconto Neves.
Conforme relata o Dr. Luiz Gustavo, “é um evento trágico e, no caso ocorrido em Missal, uma criança com dois meses de idade teve um refluxo de conteúdo gástrico, ou seja, mamou e o leite voltou do estômago em direção à boca, sendo então aspirado para os pulmões”. O médico ainda complementa: “...os bebês não tem reflexos bem coordenados, diferentemente de uma criança maior ou mesmo um adulto, que ao ter um refluxo importante sente náuseas e logo eleva o tronco ficando na posição sentada, evitando assim a aspiração do conteúdo gástrico”. E continua: “...já um neném não tem esse reflexo. Ele regurgita e parte daquele líquido que fica na boca acaba sendo aspirado para os pulmões e, dependendo do volume que é regurgitado e aspirado, pode até ser comparado a um afogamento, pois impede o pulmão de funcionar. Foi isso que aconteceu com a criança”.
A criança deu entrada no hospital já em óbito, conforme explica o médico. “...no hospital foi tentado procedimento de reanimação, com aspiração das vias aéreas, massagens cardíacas e ventilações, mas infelizmente não havia mais o que fazer”. Finalizando, o médico complementa: “...quando um fato desses ocorre, acho uma crueldade culpar a mãe, o pai, a família, pois é um risco e pode ocorrer com qualquer criança. É uma fatalidade, não existem culpados a serem apontados. É uma situação trágica, muito triste”.
Diminuição do risco
O refluxo de conteúdo gástrico, ainda que ocorra em adultos, é mais comum nos recém nascidos, pois o aparelho digestivo deles é ainda imaturo, motivo pela qual também tem cólicas frequentes e fezes sempre amolecidas. A maturação completa do aparelho digestório na criança ocorre por volta de 2 anos de idade, período no qual as fezes passam a ter coloração marrom e consistência mais firme, característicos da espécie humana.
Segundo o médico entrevistado existem algumas maneiras de se diminuir o risco do refluxo em crianças pequenas:
- Depois que o nenê de colo se alimenta, mama no peito ou uma mamadeira, ele deve ser mantido de pé o maior tempo possível para, como se diz, ‘assentar’ o leite, arrotar e eliminar o excesso de ar deglutido junto com o alimento; 10 a 20 minutos são necessários neste procedimento, antes de deitar o bebê.
- Existem nenês que tem maior tendência para o refluxo, o que os pais percebem logo nos primeiros dias. Nesses casos, elevar a cabeceira do berço em cerca de 15 graus pode proteger os menores contra refluxos mais volumosos e perigosos.
- O nenê pequeninho não precisa necessariamente ficar no berço; à noite, ele pode ser acomodado no carrinho de passeio ao lado da cama da mãe, dormindo em posição semi-sentada, pois eles costumam dormir bem nessa posição, não sendo desconfortável, inclusive, se levarmos em consideração a posição uterina dos fetos; então, após o terceiro ou quarto mês de vida, colocam-se eles no berço para dormir na posição horizontal.
Ações na broncoaspiração
Conforme relata o Dr. Luiz Gustavo, entre as ações que podem ser tomadas frente a uma broncoaspiração importante, destaca-se a tapotagem, seguindo estas orientações:
- Apoia-se o nenê na palma da mão e aplica-se suaves tapinhas nas suas costas, na tentativa de expelir o líquido que possa estar na via aérea. “A tapotagem é o recurso de primeira mão. O neném está engasgado e, se você ver que tem líquido na boca, não tente tirar esse líquido, pois ele (neném) vai jogar ainda mais para dentro” .
Para o caso de uma criança maior ou um adulto, é feita a manobra de Heimlich, que consiste na compressão súbita e vigorosa da boca do estômago, com a pessoa em pé.
Levar ao hospital
“Mesmo utilizando estas técnicas, deve-se levar o nenê ao posto de saúde ou ao hospital e fazer a aspiração com bomba a vácuo, pois com ela o médico ou enfermeiro consegue fazer melhor remoção do conteúdo gástrico nas vias aéreas, evitando uma consequência muito comum e muito perigosa das broncoaspirações: a pneumonia secundária”, informa o Dr. Luiz Gustavo.
Ainda conforme o médico, “...o estômago não é uma cavidade estéril, tem o conjunto de bactérias da flora intestinal, o que é normal, enquanto que as vias respiratórias são muito menos colonizadas, ... portanto, este conteúdo gástrico com suas bactérias ao adentrar no pulmão poderá provocar uma infecção, chamada broncopneumonia aspirativa, a pneumonia que vem depois de uma broncoaspiração”.
É importante também ressaltar que após os devidos procedimentos a criança deve ser novamente reavaliada em 48 horas, à procura de febre ou sinais de infecção pulmonar, “...pois o ideal é iniciar, em caso de necessidade, o uso de antibióticos antes que a criança comece a ficar muito doente”, conclui o Dr. Luiz Gustavo.
Fonte: Portal Missal