A história de luta e organização das mulheres trabalhadoras vem se construindo e fortalecendo junto com a história da humanidade. Basta olharmos o que foram as guerras, a constituição dos povos, a participação das trabalhadoras e trabalhadores na sociedade, a conquista de direitos básicos das pessoas.
Muitas iniciativas envolvendo algumas mulheres aconteceram para quebrar preconceitos e violências na casa (espaço privado), nas lutas sociais (espaço público), entre outras. Algumas destas lutas deram origem a movimentos e entidades feministas de grande contribuição para o avanço da emancipação das mulheres.
Nos anos da década de 1980 se consolidaram diferentes movimentos de mulheres nos estados, em sintonia com o surgimento de vários movimentos do campo. As trabalhadoras rurais construíram sua própria organização. Motivadas pela bandeira do Reconhecimento e Valorização das Trabalhadoras Rurais, desencadearam lutas como: a libertação da mulher, sindicalização, documentação, direitos previdenciários (salário maternidade, aposentadoria...), participação política, entre outras.
Com este processo, sentiram a necessidade de articulação com as mulheres organizadas nos demais movimentos mistos do campo. E a partir de 1995, criaram a Articulação Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais reunindo as mulheres de vários movimentos.
As lutas foram e continuam sendo para a continuidade e ampliação dos direitos previdenciários, a saúde pública, novo projeto popular de agricultura, reforma agrária, campanha de documentação, de preservação das sementes, entre outras.
Aos poucos, os movimentos de mulheres foram se fortalecendo nos estados, avançando nas lutas específicas e gerais, na organização da base, na formação de lideranças e na compreensão do momento histórico em que vivemos. A partir desta leitura e movidas pelo sentimento de fortalecer a luta em defesa da vida, começaram a potencializar e unificar o movimento autônomo para ter expressão e caráter nacional.
Depois de várias atividades nos grupos de base, municípios e estados e com a realização de cursos a nível nacional que teve como tema: Feminismo Camponês Popular, contando com a presença de centenas de mulheres, de diversos Estados, representando o Movimento de Mulheres Camponesas, aconteceram debates sobre a categoria que compreende a unidade produtiva camponesa centrada no núcleo familiar a qual, por um lado se dedica a uma produção agrícola e artesanal autônoma com o objetivo de satisfazer as necessidades familiares de subsistência e, por outro, comercializar parte de sua produção para garantir recursos necessários à compra de produtos e serviços que não produz.
Neste sentido, a mulher camponesa é aquela que produz o alimento e garante a subsistência da família. É a pequena agricultora, a pescadora artesanal, a quebradeira de coco, as extrativistas, arrendatárias, meeiras, ribeirinhas, posseiras, boias-frias, diaristas, parceiras, sem-terra, acampadas e assentadas, assalariadas rurais e indígenas. A soma e a unificação destas experiências camponesas e a participação política da mulher legitima e confirma, no Brasil, o nome de Movimento de Mulheres Camponesas.
Constituir um movimento nacional das mulheres camponesas se justifica a partir da certeza de que “a libertação da mulher é obra da própria mulher, fruto da organização e da luta”, e também: porque queremos continuar no campo, produzindo alimentos, preservando a vida, as espécies e a natureza, desenvolvendo experiências de um Projeto Popular para a agricultura, através da agroecologia, da preservação da biodiversidade, do uso das plantas medicinais, da recuperação das sementes como patrimônio dos povos a serviço da humanidade, da alimentação saudável como soberania das nações, da diversificação da produção, da valorização do trabalho das mulheres camponesas.
Entender que é necessário avançar na continuidade das lutas específicas e gerais, enfrentando o sistema neoliberal e o machismo que explora as mulheres e a classe trabalhadora faz parte do processo de formação e construção da identidade enquanto mulher, enquanto camponesa e enquanto Movimento Social.
No último dia 18 de novembro, mais de 1500 mulheres de diversos estados brasileiros se somaram na comemoração dos 40 anos do MMC (Movimento de Mulheres Camponesas) na Comunidade de Faxinal dos Rosas, interior do município de Chapecó/SC. Tendo como lema: “MMC 40 anos. Existimos por que lutamos!”.
“Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer, participamos sem medo de ser mulher” foi o coro entoado diversas vezes durante a celebração. Foram realizadas diversas místicas, intervenções artísticas, fala dos movimentos sociais presentes e o resgate histórico do MMC, que surgiu no fim do Regime Militar, época de surgimento de diversos movimentos populares que lutavam pela redemocratização do país.
De Missal estavam presentes as agricultoras camponesas Márcia de Freitas e Rosangela Parizotto.
Ainda não segue o MMC nas redes sociais? Pode se achegar!
Instagram: instagram.com/movimentodemulherescamponesas
Facebook: facebook.com/mmcnacional
Twitter: twitter.com/mmcnacional
Rosangela Parizotto e da Coordenação Estadual do MMC e também do Coletivo de Formação Nacional do MMC
Professora, pedagoga, Especialista em Gestão Escolar, Psicopedagogia e Educação do Campo; Mestra e Pesquisadora em Educação Unioeste/Cascavel; Doutoranda em Sociedade, Cultura e Fronteira Unioeste/Foz do Iguaçu