Cresce o número de propriedades certificadas na Região Oeste do Paraná para a produção de alimentos orgânicos
Só no primeiro semestre de 2019 o aumento foi de 60%
A procura por uma alimentação mais saudável é uma tendência que aumenta a cada dia em todo o mundo todo. E aqui no Brasil não é diferente, afinal, comida saudável é sinônimo de saúde! Segundo pesquisa do Euromonitor Internacional de 2017, esse segmento cresceu 98% entre 2012 e 2017. Atualmente o Brasil é o 4º colocado em consumo de alimentos saudáveis no ranking global e movimenta US$ 35 bilhões por ano. O País se destaca no mundo como produtor e mercado consumidor de orgânicos. Em 2019 a previsão é que o segmento atinja 50% de crescimento, movimentando R$ 110 milhões.
Produção de alimentos orgânicos em ampla expansão
Hortaliças orgânicas, cereais, grãos e sementes como arroz integral, aveia, quinoa e linhaça, conquistaram o paladar dos brasileiros e passaram a integrar o cardápio de mais famílias. O aumento no consumo de comida saudável aquece o setor alimentício e desperta o interesse de produtores rurais pelo mercado que se apresenta lucrativo.
De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em menos de uma década o número de produtores orgânicos registrados no Brasil triplicou. Em 2012 havia no País quase 5,9 mil produtores registrados. Em março de 2019 este número subiu para mais de 17,7 mil, um crescimento de 200%. No período também cresceu o número de unidades de produção orgânica no Brasil, saindo de 5,4 mil registradas em 2010, para mais de 22 mil em 2018, uma variação de mais de 300%.
Com relação à área de terra cultivada com produtos orgânicos no Brasil, segundo o Mapa, em 2015 haviam 11.478 produtores certificados. Em 2018, 17.473 produtores e no início de 2019 este número chegou a 17.730. Um aumento de 54% nos últimos quatro anos.
E neste contexto, o estado do Paraná se apresenta como referência na produção de orgânicos em nível nacional, principalmente pela preocupação que há em torno da profissionalização da atividade. De acordo com o Ministério da Agricultura, em fevereiro de 2019 haviam 2.561 produtores certificados no Paraná.
Chás, condimentos, fármacos naturais e alimentos orgânicos são destaques no Estado, porém a produção de hortaliças orgânicas sobressai no Paraná. De acordo com dados do DERAL, o Departamento de Economia Rural da SEAB, a Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento, no primeiro semestre de 2019 há o registro de 1.580 agricultores produzindo 36 mil toneladas de hortaliças no Estado. O Paraná também se destaca na criação de empresas especializadas no processamento, embalo e comercialização destes produtos.
Região Oeste do Paraná e o crescimento do setor
Na região Oeste do Paraná os números também impressionam. Aumenta a cada ano o interesse dos produtores rurais pela produção de alimentos orgânicos. E esses produtores contam com entidades que apoiam e incentivam o setor, como o TECPAR, Instituto de Tecnologia do Paraná, por meios do projeto “Paraná mais Orgânico” que atende 12 famílias na região. A Rede Ecovida atua no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná e possui um núcleo na região Oeste, formado por 20 grupos de agricultores com 167 famílias cadastradas em 17 municípios. Dessas, 50 famílias já estão certificadas. Já a Ecocert atua em parceria com a Gebana Brasil na comercialização de grãos orgânicos produzidos na região Oeste do Estado.
A Itaipu Binacional também contribui para o desenvolvimento do setor na região por meio das atividades de Assistência Técnica e Extensão Rural, com enfoque em Agricultura Sustentável e Orgânica, oferecida pelo Programa Desenvolvimento Rural Sustentável da Itaipu Binacional. O programa atua no fortalecimento do processo de certificação e comercialização de produtos orgânicos e da agricultura familiar, através do associativismo e do cooperativismo. O programa também atua para promover a divulgação dos benefícios da produção orgânica à população buscando a criação de vínculos sociais, ambientais e comerciais diretos, do meio rural com o urbano.
De acordo com o Engenheiro Agrônomo Ronaldo Juliano Pavlak, que faz parte do programa da Itaipu, nos anos de 2016 e 2017 havia 50 propriedades certificadas na região. Em 2018, com 1.500 famílias cadastradas no programa, de junho a novembro, o número de profissionais que assessoram os produtores passou de 36 para 54 o que contribuiu para a ampliação no número de agricultores certificados de 50 para 72. “Até o momento o programa conta com 72 propriedades que já conquistaram a certificação vigente num universo de 2.400 famílias atendidas distribuídas na região Oeste do Paraná e municípios de Altônia no Noroeste e Mundo Novo (MS). Isso representa um crescimento de 60% só no primeiro semestre”, comemora.
O município de Marechal Cândido Rondon apresenta o maior número de agricultores com certificação de conformidade orgânica, com 17 propriedades certificadas. Mas alguns produtores não fazem questão de conquistar essa certificação. O Engenheiro Agrônomo responsável pelo programa explica. “Nós observamos que muitos deles, por realizarem a comercialização direta ao consumidor, em feiras ou cestas, acabam preferindo não certificar as propriedades, pois isso acarretaria em um custo maior a ser agregado no valor final do produto”, explica Pavlak. Os alimentos mais produzidos na região Oeste são olerícolas (alface, repolho, couve-flor) e frutas.
As dificuldades para a certificação
Os números de produção são excelentes na região, mas o desenvolvimento do setor esbarra na burocracia. Para o Ministério da Agricultura o déficit de certificações resulta em baixa oferta no mercado e, consequentemente, preços mais elevados, uma das principais queixas dos consumidores interessados nos orgânicos.
O Engenheiro Agrônomo Ronaldo Pavlak confirma que a maior dificuldade das famílias de produtores é a certificação da propriedade para a comercialização dos alimentos. “Por ter vigência de apenas um ano e devido à grande carga burocrática exigida para a certificação, o número de agricultores certificados acaba tendo alta flutuação na região”, lamenta. Mas ainda de acordo com Pavlak, a boa notícia é que dentre os agricultores acompanhados pelo programa atualmente existem aproximadamente outras 200 propriedades em processo de transição para o sistema de produção de orgânicos.
De acordo com o Crea-PR, o Conselho de Engenharia e Agronomia do Paraná, a função dos Engenheiros Agrônomos é fundamental para alcançar a certificação para a produção em larga escala de produtos orgânicos.
O Gerente da Regional do Crea-PR em Cascavel, Geraldo Canci, ressalta a importância desse profissional no processo de certificação das propriedades. “Quando falamos em comida orgânica estamos nos referindo a alimentos manufaturados que, desde o cultivo, seguem uma série de métodos como o não uso de agrotóxicos, transgênicos, agroquímicos e fertilizantes sintéticos, além de possuírem o selo de certificação orgânica que garante as normas e práticas de produção. E para alcançar esses resultados, o acompanhamento do Engenheiro Agrônomo é fundamental para a garantia de bons alimentos, além da preservação da saúde dos trabalhadores da agricultura”, alerta.
O profissional habilitado prepara um plano de manejo, em que é pensado e projetado o período de transição, passando pela melhoria das práticas convencionais para redução de insumos, com a substituição de práticas e insumos convencionais por outras alternativas e finalmente com o redesenho dos sistemas com base em processos naturais. Este planejamento visa o aumento da sustentabilidade do sistema de forma interdisciplinar, passando por questões econômicas, sociais e ambientais.
“Além disso, assim como na agricultura convencional, o sistema orgânico necessita de planejamento, gestão financeira periódica e gestão de usos de defensivos naturais, que demandam aplicações conduzidas corretamente por um profissional habilitado, pois, do contrário os benefícios do orgânico podem se tornar sérios problemas para o consumidor final”, finaliza Canci.
A Engenheira Agrônoma da Emater de Marechal Cândido Rondon, Márcia Vargas, diz que todos os processos de certificação são baseados em normas internacionais e na legislação nacional vigente (Lei nº. 10.831/03, Decreto nº. 6.323/07, em especial a IN 50/09 sobre Selo federal do SisOrg). A Engenheira explica que existem duas formas de certificação, uma que é feita por auditoria e outra participativa.
“Na auditada, a concessão do selo SisOrg é feita por uma certificadora pública ou privada credenciada no Ministério da Agricultura, na qual o organismo de avaliação da conformidade verifica se a propriedade a ser certificada obedece a procedimentos e critérios reconhecidos internacionalmente, além dos requisitos técnicos estabelecidos pela legislação brasileira”, explica.
Já o sistema participativo de garantia (SPG) é caracterizado pela responsabilidade coletiva dos membros, que podem ser produtores, consumidores e técnicos. “Um SPG deve possuir um organismo participativo de avaliação da conformidade, uma OPAC, que é o orgão legal que responde pela emissão do SisOrg”, conclui.
Mais saudável e mais saboroso
Pesquisa realizada em Chicago, nos Estados Unidos e publicada no "Journal of Applied Nutrition", aponta que o consumo de alimentos orgânicos contribui para a melhoria da saúde da população. O motivo está na diferença de conteúdo de alguns minerais essenciais presentes nos alimentos orgânicos em relação aos convencionais. Alguns alimentos possuem 63% a mais de cálcio; outros 73% a mais de ferro; 118% a mais de magnésio; 178% de molibdênio; 91% de fósforo; 125% de potássio; 60% de zinco e menos 29% de mercúrio.
A Organização Mundial da Saúde, OMS, recomenda o consumo de alimentos orgânicos para a redução no índice de doenças decorrentes do padrão 'moderno' de alimentação, um dos fatores que promovem o sobrepeso, que hoje atinge mais da metade da população brasileira, (54%), de acordo com o Ministério da Saúde.
Os alimentos orgânicos frescos possuem menos água em sua composição, em média 20%, o que significa que os nutrientes estão mais concentrados, por isso são mais ricos nesses componentes e possuem mais açúcar, o que proporciona um sabor mais adocicado. Esses alimentos também tendem a ter níveis mais altos de vitamina C. A nutricionista Fávia Diesel explica que os tomates orgânicos possuem 23% a mais de vitamina A do que os da cultura convencional. Cenouras cultivadas sem fertilizantes ou pesticidas têm mais vitamina A e betacaroteno.
Foto 1 (Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional)
Foto 2 (Caio Coronel/ Itaipu Binacional)
Fonte: Assessoria